quarta-feira, 6 de abril de 2011

A fuga das Girafas

Dia desses vivenciei uma experiência que me trouxe a absoluta certeza de que vírus e pânico são parentes na escala evolutiva. Eu me arriscaria a dizer que o pânico é primo-irmão de um desses vírus que deixam as pessoas gripadas. O mecanismo de ação é o mesmo. Ambos são alguma-coisa-biologicamente-não- definida que atacam de forma rápida e silenciosa. Vão passando de pessoa infectada para pessoa infectada e quando nos damos conta temos uma epidemia, e já é tarde demais para evitar. Depois de infectados, só nos resta esperar a ação do sistema imune ou, no caso do pânico, do sistema lógico racional.
A clareza dessa relação óbvia me veio de forma estranha (como a maioria das descobertas científicas), mas inquestionável. Estavamos no shopping, meu lugar favorito para estudar fenômenos do universo paralelo, quando, então, resolvemos nos sentar na praça de alimentação para saciar aquela lombriga desgraçada que habita o meu cérebro insaciável. Sim, meu cérebro e não meu intestino! Pedimos um trio soco no estômago do Mac Donald e nos concentramos em acalmar a desgraçada.
Poucos minutos depois de metermos as mãos no sanduíche, ouvimos um estampido “PLOC!”, em seguida veio o barulho de ar escapando. A duras penas afastei meus lábios sedentos do “mardito” para que pudesse levantar, de leve, a cabeça a tempo de ver um dos atendentes do Giraffa’s pulando por cima do balcão. Essa foi a brecha no sistema imune daquela multidão. Foi tudo muito rápido, mas eu vi... vi o pânico infectando as pessoas, uma a uma. Em segundos elas estavam de pé, alguns conseguiam gritar, outros só corriam, e mais uns tantos faziam tudo-ao-mesmo-agora. Minha lombriga deu uma cutucada brusca e eu olhei para o meu sanduíche e depois para o Daniel que continuava, sereno, a devorar em câmera lenta, seu suculento Big Mac. “Bom, se ele não tá nem aí pro fim do mundo, não sou eu que vou morrer de barriga vazia, né?” E dei uma gostosa mordida.
Enquanto o ataque de indolência (e a lombriga) nos impedia de tomar uma atitude mais arrojada, dava para ouvir as cadeiras sendo derrubadas, as mesas arrastadas, alguns seres humanos se estabacando no chão... olhei para o Dani, ele me deu um sorriso e o silêncio se fez. Lá estávamos nós, quase sozinhos na praça de alimentação. O pânico tinha dizimado a multidão. Olhei em volta e o cenário era de devastação.
Enfim, um dos atendentes do Giraffa’s conseguiu colocar o cano de pressão da máquina de refrigerante de volta no lugar. Pensei “Ah, foi daquele cano que o vírus escapou e se espalhou!”. Por sorte, eu, Dani e nosso lanche sobrevivemos à catástrofe, imunes. Nada como um parasita faminto para atrapalhar a ação do outro...

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